Um dos maiores assuntos nas rodas de amigos, colegas de trabalho, grupos diversos é sobre a insatisfação.
Insatisfação com o governo, com o trabalho, com o casamento, com o corpo, com o carro, com os cabelos, enfim, com quase tudo que se possa imaginar. O ser humano é um eterno insatisfeito.
Temos milhares de cursos, livros, palestras e é provável que nada disso melhore esta sensação nas pessoas. Comecei a refletir sobre isso e fiquei me perguntando onde está a origem de tanta insatisfação, que gera inclusive doenças emocionais que com o tempo podem explodir no físico.
Depois de muito pensar entendi que tudo isso nasce na identidade humana e que talvez nem todos os cursos do mundo, podem trazer uma fórmula ou receita para explorar aquilo que o homem é individualmente.
Não quero dizer que a identidade humana seja originalmente insatisfeita, mas a não realização desta identidade gera insatisfação.
O homem não se conhece, e, desde a infância é educado para ser tudo, menos ele mesmo. Essa viagem reversa custa muito cara para as emoções humanas porque quando o homem descobre que o que ele se tornou não o satisfaz, ele inicia uma busca desenfreada por algo que o preencha e nesta busca ele pode se perder ainda mais se entender que esta satisfação pode ser encontrada em vícios, abusos contra o outro, compulsões diversas.
Nesta confusão criamos atalhos, retornos, partidas das linhas de chegada, saltamos fases e reinventamos a criação, ignorando princípios, então tentamos buscar fora o que está dentro, criticamos aquilo não faz milagre, aquilo que não dá rápidos resultados, desconsideramos o que requer algum esforço e nos plastificamos num modelo que não consegue encontrar aquilo que nós somos idealmente.
Então busquei entender o que é esta tal identidade humana.
Identidade tem haver com origem, com gênese e não com o que me tornei ao longo dos anos, identidade é princípio, identidade não é a maneira com que tenho me comportado. Isso me animou muito, porque pode estar aí o antídoto contra a insatisfação humana.
Assim, se a identidade está relacionada à origem, lembrei-me dos inúmeros questionamentos que fazemos a respeito de onde viemos. Sei que a ciência já traçou muitas hipóteses e até já provou algumas delas. Uma delas é que viemos do macaco.
Viemos do macaco? Puxa pra mim é muito incomodo pensar nisso, não gosto de macacos. Então quero pedir licença para abstrair um pouco e para inclusive me ligar à minha identidade. Gosto mais de pensar que fui criada por Deus, melhora muito a minha auto-estima e é mais coerente com a minha filosofia.
Mas quando me aprofundei neste pensamento, comecei a refletir que um ser que foi criado à imagem e semelhança de Deus, traz em si uma identidade divina e se o humano possui tal identidade, porque às vezes seu comportamento é de um macaco?
Mas não desistindo de me assemelhar a Deus lembrei-me que meus comportamentos nem sempre refletem a minha identidade. Isso me aliviou.
Então o autor da criação pode não estar sendo o autor da formação e do aprendizado humano, assim ao nos entregar aos nossos professores no mundo estes podem não estar sendo guardiões da essência de cada ser humano.
E quem são estes professores? Boa parte da vida eles são os nossos pais. Grandes canais de revelação do que de fato somos. Que nos ajudam a trazer a nossa identidade e o nosso destino. Então fiquei ainda mais preocupada, o que as famílias tem se tornado? Geradoras de pessoas insatisfeitas?
Outro fato é que se nos distanciamos da nossa identidade real, nos afastamos do propósito da nossa existência e este propósito realizado dá sentido a minha presença aqui, satisfaz o meu ser e mais que o meu ser, meu propósito contribui com o outro.
Então pensei de novo: _ Precisamos diminuir esta distância e conseguir chegar até o que somos na nossa identidade, pois isso é o que mais o mundo deve estar precisando neste momento, da verdade de cada um. Quanto mais eu me engano com o que realmente sou, mais o mundo perde.
Assim me veio mais um pensamento, o que sou serve ao outro porque entendo que a realização da nossa identidade não se dá para a nossa própria satisfação, mas sim, para satisfazer uma necessidade do outro. Então quer dizer que o meu autoconhecimento se faz necessário para que o outro seja satisfeito? Sim. Quebrar o paradigma da insatisfação passa por quebrar o paradigma da individualidade. Na identidade de Madre Tereza de Calcutá estava o cuidar dos doentes daquele local e isto a satisfazia profundamente. Na identidade de Gandhi estava à luta pela liberdade dos indianos, sem violência, e isto o preenchia muito mais do que milhões de dólares. Na identidade de Jesus estava o servir a todo aquele que necessitasse, e isto o bastava.
Para se satisfazer é preciso ter coragem para ser.
E o que é que você veio ser?
Marta Andrade
Coaching e Desenvolvimento
1 comment
Coragem de Ser... Muito bom Marta. Gostei muito do seu texto, bastante amplo quanto ao sentido existêncial. Parabéns. Abs, Reginaldo.
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